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Quando usar corretamente LHE e LHES

São muito comuns erros no emprego desse pronome em usos como o seguinte:

Jamais lhe procurei.

Por que esse uso não é correto?

Por uma razão simples: lhes e lhes só podem ser empregados para substituir complementos verbais preposicionados, como nos exemplos abaixo:

  • Enviou-lhes um convite. (enviou a eles, aos amigos, aos colegas,)
  • Entregaram-lhe a encomenda. (entregaram a você, à avó, à colega, etc.)
  • Disseram-lhes que não virias. (disseram a eles, a elas, aos familiares, etc.)
  • Nada lhe contaram a respeito da doença. (nada contaram ao doente, ao chefe, à família)
  • Não podemos lhes oferecer nada além de palavras de conforto. (oferecer aos doentes, aos familiares, etc.)
  • Devia-lhes obediência. (devia obediência aos pais, aos superiores, etc.)

Note que o pronome LHE(S) normalmente é empregado com verbos que exigem dois complementos, mas substitui sempre o complemento com preposição que equivale a “a alguém” ou “para alguém”.

Enviou algo a alguém; entregaram algo a alguém; disseram algo a alguém; contaram algo a alguém; devia algo a alguém.

Na frase acima – Jamais lhe procurei -, percebemos que o lhe não pode ser substituído por a “a alguém”. Diríamos: Jamais procurei alguém e não a alguém. Ou seja: o verbo procurar exige um complemento não preposicionado, por isso não é substituível por lhe.

Empregando corretamente o pronome teremos:

Jamais o procurei ou jamais procurei você.

Resumindo: só use LHES(S) para substituir complementos de verbos que poderiam ser substituídos por a alguém. (Para quem lembra as regras de gramática, LHE(S) serve para substituir objeto indireto).

Observe que, nas frases 4 e 5 acima, o pronome está antes do verbo por atração dos advérbios nada e não, respectivamente. (Na terminologia gramatical, diz-se que ocorre a próclise)

Apenas a título de curiosidade: LHE(S), além de substituir complemento verbal preposicionado, pode ser empregado em lugar de dele(s), dela(s) indicativos de posse, como nos exemplos abaixo.

Roubaram-lhe os documentos. (= os documentos dele ou dela).

Tocou-lhes o rosto. (= o rosto deles ou delas).

Mas em construções como essas não preocupam, porque não há possibilidade de erro.

Seu ou dele? Formas de substituição do possessivo para evitar ambiguidade

Os pronomes possessivos, por sua própria origem, indicam posse (de alguém).

Meu (= de mim); teu (de ti); seu (= de ele); nosso (= de nós) etc.

Aparentemente, tudo muito claro. Ao empregá-los, no entanto, é preciso dar atenção aos de 3ª pessoa (seu, sua, seus, suas), que podem levar a ambiguidades.

Em O professor levou o seu livro, o pronome seu tanto poderia indicar o livro que pertence a ele (professor) quanto o livro da pessoa com quem estou falando. Mas isso se o tratamento que lhe dou é de 3ª pessoa (você), caso contrário seria teu e, por isso, não haveria ambiguidade.

Para desfazer a duplicidade de sentidos causada pelo emprego do pronome seu, na frase acima, é preciso primeiro ver qual é o sentido pretendido. Se o livro pertence ao professor, é fácil: substitui-se seu por dele. O professor levou o livro dele.

Se o livro pertence à pessoa com quem estou falando, terei que buscar outra forma de dizer. Ex.: O professor levou o livro que pertence a você.

Em alguns contextos, a ambiguidade pode ser evitada com o acréscimo de próprio:

O professor levou o seu próprio livro.

Em outro exemplo, Ele pagou os seus estudos. Ele pagou os seus próprios estudos.

O pronome pessoal lhe/lhes também pode ser utilizado em lugar dos possessivos seu, sua, seus, suas. Ex.: Ele pagou-lhe os estudos (= estudos dele ou deles).

Obs.: Não apenas o lhe/lhes, mas os demais pronomes pessoais átonos me, te, se, nos, vos também podem ser usados com sentido possessivo. Ex.: Tirou-me a inspiração. (me = minha). Tirou-lhe a inspiração. (lhe = dele/deles).

Essas são apenas algumas possibilidades que a língua nos coloca à disposição para expressar uma mesma ideia. Conhecê-las e refletir sobre diferentes recursos propicia o desenvolvimento do que se pode chamar de competência linguística para dizer com clareza o que se quer dizer, especialmente na escrita, porque na comunicação face a face o contexto, quase sempre, se encarrega de desfazer possíveis duplos sentidos.