Arquivo mensal: abril 2021

Emprego do pronome CUJO

CUJO, que varia em gênero e número (cujo, cuja, cujos, cujas), é um pronome relativo empregado quase que exclusivamente em variedades mais formais da língua. Quanto ao sentido, equivale a um pronome possessivo, ou seja, expressa uma relação de posse entre dois termos:

A criança cujos pais vivem ausentes tende a ser mais indisciplinada. 

cujos pais” corresponde a “seus pais” 

Na linguagem informal, sem o emprego de cujo, a frase seria a seguinte:

A criança que seus pais vivem ausentes tende a ser mais indisciplinada.

Do ponto de vista sintático, cujo exerce a função de conectivo, assim como os demais pronomes relativos. Em outras palavras, os pronomes relativos ligam uma oração subordinada a um termo de outra oração.

Os indivíduos / cujos princípios são sólidos / não se deixam corromper. Temos neste período duas orações: uma principal – Os indivíduos não se deixam corromper; outra subordinada, que qualifica “indivíduos”. 

Vale destacar que as orações que iniciam por cujo, ou por outro pronome relativo (as chamadas orações adjetivas), vêm quase sempre encaixadas em outra. Isso ocorre porque as orações adjetivas devem vir logo após o termo que é por elas qualificado ou especificado. Vejamos outros exemplos:

Os atores / cuja atuação não agradou ao público / foram substituídos. (a oração adjetiva especifica quais atores)

A árvore / cujo peso das frutas fazia vergar seus galhos / tornou-se improdutiva com os passar dos anos. (a oração adjetiva qualifica/especifica qual árvore)

O prêmio foi dado a um escritor / cujas obras ainda são pouco conhecidas. (a oração adjetiva qualifica/especifica qual escritor)

Neste último período, a oração adjetiva não vem encaixada em outra, porque qualifica “escritor”, que é a última palavra da oração anterior.

Em relação ao uso de cujo e suas flexões, vale um lembrete:

Cujo, cuja, cujos e cujas sempre precedem um substantivo e nunca são seguidos de artigos: o, a, os, as.

O problema cuja solução é difícil… (Nunca cuja a solução…)

Os pais cujos filhos são saudáveis… (Nunca cujos os filhos…)

Também vale lembrar que não se trata de um pronome que está em desuso, mas de um pronome que exige mais cuidado ao ser empregado, por isso é mais comum encontrá-lo em situações de linguagem mais formais.

Concordância verbal com expressões partitivas na função de sujeito

As expressões partitivas, como a própria denominação indica, são formadas de um termo no singular (maioria, parte, número, metade, dobro e outras), seguido de um substantivo no plural (pessoas, alunos, manifestantes, convidados, indígenas, recursos e outros)

Quando uma dessas expressões está na função de sujeito da oração, é comum surgirem dúvidas quanto à concordância do verbo. Vejamos:

A maioria das pessoas respeita ou respeitam os protocolos estabelecidos?

 Boa parte dos alunos desistiu ou desistiram dos cursos? 

A metade dos indígenas já recebeu ou já receberam a primeira dose da vacina? 

Um grande número dos manifestantes reuniu-se ou reuniram-se?

 Resposta: 

Ambas as concordâncias são aceitas, embora a recomendação seja a de dar preferência ao verbo no singular, especialmente em usos mais formais da linguagem. Isso por uma razão simples: a regra geral de concordância verbal é a de que o verbo concorda com o núcleo do sujeito. E, nas expressões partitivas, o núcleo do sujeito é singular:  maioria, parte, metade, número.

Mas atenção para uma sutiliza do sentido: 

a) Ao deixar o verbo no singular, enfatiza-se a ideia de conjunto: maioria, parte, metade, número etc. 

b) Ao flexionar o verbo no plural, dá-se destaque aos constituintes do grupo: pessoas, alunos, indígenas, manifestantes etc. Vejamos:

Menos da metade dos pais compareceu à reunião. (Ênfase no grupo)

Menos da metade dos pais compareceram à reunião. (Ênfase na especificação: pais)

Em síntese:

Em situações de escrita mais formal, recomenda-se, preferencialmente, seguir a regra geral, ou seja, deixar o verbo no singular, concordando com o núcleo do sujeito. Ex.:

Boa parcela dos recursos foi mal aplicada. (O sujeito é a expressão “Boa parcela dos recursos”. O núcleo é “parcela”. O verbo “foi”, singular, concorda com o núcleo do sujeito. 

E, em situações de linguagem menos formal, ou se a intenção é a de dar estaque a “recursos”, é aceitável a concordância abaixo:Boa parcela dos recursos foram mal aplicados.